“Ao contrário do cientificismo, a ciência no verdadeiro sentido da palavra é abrir para a investigação imparcial todo fenômeno existente.” Stanislav Grof
A Psilocibina
(O-fosforil-4-hidróxi-N,N-dimetiltriptamina), que é um dos ingredientes
ativos nos cogumelos psicodélicos, tem sido utilizada há anos pelos
povos indígenas das Américas; em fato, os Astecas chamaram esses
cogumelos de teonanacatl, ou “carne dos deuses”. A Mescalina (o ingrediente psicoativo do cacto peyote)
é um outro tipo de alucinógeno que foi amplamente utilizado pelos
Nativos Americanos vivendo no que são agora partes da América do Sul e
do México; até mesmo hoje o cacto peyote se apresenta de forma forte em rituais religiosos celebrados pelos Navajos e outras tribos indígenas. O LSD, (dietilamida do ácido lisérgico), outro tipo de alucinógeno, foi descoberto mais recentemente pelo Dr. Albert Hofmann em 1943 e então popularizado pelo movimento de “contracultura” da década de 1960.
O Estudo dos alucinógenos e seu modo de
ação no cérebro humano é conduzido desde os anos de 1800. (1) Por volta
de 1960, o estudo dos alucinógenos e seus efeitos na consciência se
aceleraram dramaticamente. (2-4) Infelizmente, em vista das aventuras de
entusiastas de drogas como o doutor Timothy Leary, o interesse público e
científico além do suporte à pesquisa com alucinógenos essencialmente
parou. Foi assim até meados da década de 1990, quando controles de
estudo aprimorados puderam ser implementados, quando os pesquisadores
puderam retomar a investigação das substâncias alucinógenas e o efeito
desses agentes na mente e no corpo.
Atualmente, pesquisadores e doutores
renovaram seu interesse em substâncias psicodélicas como a psilocibina
porque foi descoberto que essas substâncias são efetivas no tratamento de diversos comportamentos e estados mentais
desafiantes, como memórias reprimidas, (5), álcool, tabaco e vício em
narcóticos (6), dores de cabeça e enxaquecas (7) e até mesmo a
depressão, como um resultado de câncer terminal/em estágio avançado. (8)
Depois de um estudo de candidatos potenciais com estabilidade mental e
sem uso de alucinógenos anteriormente, esses pesquisadores e doutores
administraram dosagens controladas da droga alucinógena Psilocibina. As
reações dos participantes são então meticulosamente registradas e
catalogadas. Em diversos casos, ressonâncias magnéticas ou tomografias
por emissão de pósitrons são administradas durante a experiência
psicodélica com o objetivo de avaliar a atividade cerebral. Alguns
resultados intrigantes já foram coletados desses estudos, incluindo os
10 listados a seguir:
Drogas narcóticas como a cocaína
previnem a recaptação dos neurotransmissores de prazer/aprendizado como a
dopamina, eventualmente levando à dependência devido à forte sensação
de recompensa que os narcóticos criam. Alternadamente, a psilocibina age
como um agonista (ativador) dos receptores 5-hidroxitriptamínicos
(5-HT), 5-HT1A, 5-HT2A e 5-HT2C, se assemelhando grandemente ao receptor
serotonínico natural 5-HT. A Serotonina, ao contrário da Dopamina, é
mais associada com o bem-estar e a memória, e menos com prazeres
temporários, uma diferença chave que acredita-se que remova essa
substância do caminho da dependência.
Serotonina, principal neurotransmissor ligado à memória / aprendizado. |
Comparação entre a Psilocina (Psilocibina sem o radical fosfórico) e a Serotonina (Ao lado) |
2.Redução da Ansiedade
O Dr. Stephen Ross estudou a
psicoterapia assistida com psilocibina como um método de tratamento para
pacientes que estão sofrendo de sensações de ansiedade e depressão como
resultado de um diagnóstico de câncer terminal/em estado avançado. As
descobertas do NYU Psilocybin Cancer Project,
no qual ele é o principal pesquisador, indicam que os pacientes com
câncer terminal/em estado avançado se beneficiam da administração de
psilocibina em termos do seu bem estar mental e espiritual, além de
diminuir os níveis de ansiedade, depressão e dor. Isso não é
surpreendente sob a luz das descobertas feitas pelo Dr. Franz X. Vollenweider,
que descobriu que a psilocibina reduz o controle do córtex pré-frontal
sobre a amídala, o tão chamado centro do medo no cérebro.
Incidentalmente, o Dr. Vollenweider também publicou estudos na redução
da depressão em pacientes que ingerem psilocibina regularmente.
A percepção geral da sociedade em
relação à indivíduos que consomem substâncias psicodélicas é que eles
são anti-sociais, desajustados e cabeças-dopadas. Entretando, a pesquisa
que está sendo conduzida pelo Dr. Roland Griffiths na Universidade Johns Hopkins indica que ingerir psilocibina pode produzir mudanças positivas na personalidade,
atitudes e comportamentos dos participantes. (10) Indivíduos que
experimentaram a psilocibina reportaram que tiveram sentimentos de
responsabilidade social, empatia com outros e uma compreensão
fundamental da inter-conexão entre todas as formas vivas aprimorados e
fortificados. As mudanças da percepção e da cognição incorridas durante o
encontro com a psilocibina são creditadas em parte para essas mudanças
no centro do comportamento.
Estudos-piloto em curso na Universidade
Johns Hopkins com psilocibina sugeriram que esse alucinógeno pode ajudar
indivíduos superarem seu vício em nicotina. (6, 12) Até agora, dos três
voluntários testados, 1 ficou em remissão de nicotina por pelo menos 6
meses enquanto dois outros ficaram em remissão por mais de 12 meses. A
pesquisa atual é focada na busca do mecanismo por trás do tratamento do
vício em nicotina com alucinógenos assim como vícios em outras drogas.
Indivíduos que tomaram psilocibina
reportaram que a experiência foi uma das cinco mais significantes entre
as cinco principais de sua vida. Essa opinião continuou por até 14 meses
depois da experiência com o alucinógeno (13), provando que a tão
chamada “viajem psicodélica” não é algo para ser levado de forma leve ou
passageira.
O Dr. Francisco A. Moreno
da Universidade do Arizona está explorando o tratamento do transtorno
obsessivo-compulsivo, ou TOC, com a psilocibina. (15) Os resultados
preliminares parecem promissores, com alguns pacientes ficando livres
dos sintomas por dias seguindo-se ao tratamento. Um paciente ficou sem
sintomas por quase 6 meses. Nenhum tratamento foi encontrado para
aliviar os sintomas de TOC rapidamente como a psilocibina.
Cefaleias em Salvas são enxaquecas de
intensidade incomum que duram aproximadamente de 15 minutos a 3 horas ou
mais. Podem ocorrer em uma base periódica, mas também podem estar
sujeitas a uma remissão espontânea. Ambas substâncias, psilocibina e
LSD, foram descritas como um possível tratamento contra as cefaleias com
um sucesso impressionante. (7)
Em alguns casos, a ingestão de
psilocibina permitiu que certos indivíduos retomassem memórias
emocionais suprimidas. A Fundação Beckley, em colaboração com o
especialistas em Ressonâncias Magnéticas, Dr. Karl Friston, estarão
estudando indivíduos que ingeriram psilocibina para determinar se e como
a psilocibina possibilita essas memórias virem à tona.
É claro, nem tudo são rosas quando se
trata de alucinógenos. Roland Griffiths reportou que, mesmo sob
supervisão cuidadosa por coordenadores do estudo, indivíduos que tomaram
psilocibina experimentaram medo e ansiedade durante a experiência. De
modo geral, 1/3 dos indivíduos tiveram sensações de medo e ansiedade
quando administradas altas dosagens (30mg/70kg). Outros 9% dos
participantes reportaram que a sessão inteira foi dominada por
ansiedade, enquanto 26% tiveram pensamentos paranóicos leves e
transitórios.
Há também poucas informações sobre os efeitos de longo prazo
do uso de psilocibina. Efeitos de curto prazo, como a dependência ou a
neurotoxidade/excitotoxicidade, não aparentam ser um problema;
entretanto, não é certo que a regulação dos receptores de serotonina
(por exemplo a tolerância), o acúmulo de sub-produtos, ou uma doença
neurodegenerativa estejam fora de questão após o uso prolongado de
alucinógenos. Esses efeitos paralelos podem levar décadas para se
tornarem evidentes, e, portanto, não poderiam ser relatados em pesquisas
realizadas apenas 15-20 anos atrás.
Enquanto todas as questões não foram
respondidas sobre a psilocibina e outros alucinógenos, existem
evidências sugerindo que podem haver potenciais terapêuticos para vários
problemas mentais e de comportamento. Assim também, os tão famosos
psicodélicos podem se tornar uma janela única para a alma humana.
Texto traduzido do blog promega.com
[hr]- Mitchell SW. Remarks on the effects of Anhelonium lewinii (the mescal button). The British Medical Journal. Dec 5 1896, 1625–9.
- Huxley, Aldous. Drugs that Shape Men’s Minds.
- Cohen, S. (1960) Lysergic acid diethylamide: Side effects and complications. J. Nerv. Ment. Dis. 130, 30–40.
- Unger, S. M. (1963) Mescaline, LSD, Psilocybin and Personality Change. Psychiatry: Journal for the Study of Interpersonal Processes. 26, May 1963.
- Psilocybin and Memory. The Beckley Foundation
- Psilocybin-Facilitated Treatment of Addiction – A Beckley Foundation/Johns Hopkins Collaboration
- Sewell, R.A., Halpern, J.H. and Pope, H.G. Jr. (2006) Response of cluster headache to psilocybin and LSD. Neurology 27 1920–22.
- Hallucinogens Have Doctors Tuning In Againhttp://www.nytimes.com/2010/04/12/science/12psychedelics.html?ref=science
- Grob, C.S. et al. (2011) Pilot study of psilocybin treatment for anxiety in patients with advanced-stage cancer. Arch Gen Psychiatry. Jan;68(1):71–8. Epub 2010 Sep 6.
- Psilocybin and quantum change in attitude and behavior” with Roland Griffiths
- Griffiths, R.R. et al. (2006) Psilocybin can occasion mystical-type experiences having substantial and sustained personal meaning and spiritual significance. Psychopharmacology (Berl). 187, 268–83; discussion 284-92. Epub 2006 Jul 7.
- Psilocybin in Smoking Cessation: A Pilot Study. Horizons 2010: Psilocybin in Smoking Cessation: A Pilot Study – Matthew W. Johnson, Ph.D. and Mary P. Cosimano, MSW
- Griffiths, R. et al. (2008) Mystical-type experiences occasioned by psilocybin mediate the attribution of personal meaning and spiritual significance 14 months later. J Psychopharmacol. 22, 621–32. Epub 2008 Jul 1.
- Finsterwald, C. et al .(2010) Regulation of Dendritic Development by BDNF Requires Activation of CRTC1 by Glutamate J. Biol. Chem.285, 28587–95.
- Francisco, A. et al. Safety, Tolerability, and Efficacy of Psilocybin in 9 Patients With Obsessive-Compulsive Disorder J Clin Psychiatry 2006;67:1735-1740.
Fonte: http://mundocogumelo.com/2013/03/07/10-fatos-supreendentes-sobre-alucinogenos-psicodelicos-e-cogumelos-magicos/
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